sexta-feira, 15 de março de 2013

Autopsicografia (Fernando Pessoa)

 Pessoa e os heterónimos. Obra de Costa Pinheiro (1978)


AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
 Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa


Escutamos o poema na voz de João Villaret: